“Este é o amador de seus irmãos e do povo de Israel” (2Mc 15, 14).
Quem ama a Deus, ama também ao próximo. Eis por que Santo Afonso, que se distinguiu tanto pelo amor a Deus, se distinguiu igualmente pelo amor ao próximo. Toda a sua longa vida pode ser chamada um exercício contínuo e árduo de caridade, que não fugia nem trabalhos, nem fadigas, nem oposições, nem perigos. Nós nos gloriamos de ser devotos do grande santo, mas como é que lhe imitamos os exemplos? Podemos dizer que amamos verdadeiramente ao próximo como a nós mesmos? Procuremos ser ao menos mais diligentes para o futuro.
I. Assim como Santo Afonso se distinguiu pelo seu amor a Deus, distinguiu-se igualmente pelo amor ao próximo, que dele necessariamente deriva. Toda a longa vida do santo pode ser chamada um exercício contínuo e árduo de caridade. Assistência dos enfermos, visita dos encarcerados, hospitalidade para com os peregrinos, esmolas de toda a espécie, pregações, catecismos, instruções públicas e particulares; numa palavra, tudo que o Evangelho de Jesus Cristo pode inspirar para alívio das muitas misérias que afligem o gênero humano, o santo o praticou mesmo a favor de seus inimigos figadais e de seus cruéis perseguidores. No particular da caridade não conhecia trabalhos nem fadigas, oposições nem perigos; mais, para socorrer seus irmãos, teria sacrificado a própria vida. Com efeito, mostrou-se pronto para sacrificá-la, quando, temendo que o flagelo da peste, que grassava em Messina, se estendesse até o reino de Nápoles, se obrigou por voto a socorrer os pestíferos, onde quer que fosse preciso.
Este mesmo amor ao próximo excitou o santo a editar muitos livros para auxílio de toda a classe de pessoas: bispos, sacerdotes, missionários, religiosos, seculares, mesmo príncipes reinantes. Mais: o amor fez com que Afonso fundasse a sua Congregação, cujo escopo especial é trabalhar em prol das almas mais abandonadas e mais privadas de recursos espirituais.
Numa palavra, do santo Doutor se pode dizer o que São João Crisóstomo disse de São Paulo: Quem quiser saber qual deva ser o nosso amor para com o próximo, contemple a vida de Afonso e achará nele o mestre e discípulo de uma tão sublime virtude. Tu, que te glorias de ser devoto e filho do santo, examina a tua consciência para ver se imitas os seus exemplos, e lembra-te do que diz São Pedro Crisólogo: Quem faz obras contrárias às do seu pai, nega pelo fato a sua filiação.
II. Como fruto desta meditação, toma a resolução de imitar, segundo o teu estado de vida, os exemplos de caridade de Santo Afonso, e, se mais não puderes fazer, guarda ao menos as regras gerais que o Santo Doutor te da. Quanto aos atos interiores, guarda-te de julgar ou suspeitar mal do próximo sem grave razão; deseja-lhe todo o bem que a ti mesmo desejas, e alegra-te quando é bem-sucedido, e, ao contrário, compadece-te dos seus males como se fossem teus.
Quanto aos atos exteriores, não só deves abster-te de toda a sombra de murmuração, mas fala bem de todos, também dos inimigos; e se não puderes desculpar a falta, desculpa ao menos a intenção. Esforça-te por socorrer o próximo, o melhor que puderes, e especialmente aqueles pelos quais sentes aversão, pelo menos orando por eles. Não te esqueças nunca das almas do próximo já falecido, isto é, das almas do purgatório, sufragando-as com missas, esmolas e orações. Lembra-te de que aquelas almas benditas saberão ser gratas, e te obterão de Deus grandes graças, não somente no paraíso, onde por teu intermédio venham a entrar mais depressa, mas mesmo desde já, enquanto ainda estiverem no purgatório.
Ó meu santo Protetor, Afonso, eu, vosso humilde devoto, prometo-vos querer sempre seguir os vossos exemplos e conselhos. Pelo vosso amor a vossa e minha querida Mãe Maria, alcançai-me a graça de vos ser fiel. Meu amado santo, que na terra estáveis tão abrasado em amor para com o próximo e agora no céu ardeis num amor mais forte e mais puro, peço-vos que me alcanceis de Deus uma centelha dessa santa chama. Alcançai-me um amor puríssimo para com Deus, sem o qual não pode haver amor verdadeiro para com o próximo. Numa palavra, fazei, ó meu pai, com que eu seja um imitador perfeito das vossas virtudes e especialmente da do amor, que é a maior entre todas.
Texto adaptado de: Santo Afonso, modelo de amor para com o próximo.