“Bem-aventurado o homem que pôs sua confiança no nome do Senhor” (S1 39, 5).
I. A medida das misericórdias divinas é proporcionada à confiança que a alma põe em Deus. Querendo, pois, o Senhor sublimar Afonso ao mais alto grau de santidade e fazer dele um Apóstolo, Bispo, Fundador de Ordem e Doutor da Santa Igreja, enriqueceu-o com uma confiança ilimitada. E o santo deu provas dela em toda a sua vida. Foi esta confiança que, depois de o ter levado a deixar tudo por amor de Deus, o sustentou entre as dificuldades e obstáculos que se lhe antolhavam na fundação da sua Congregação, na reforma da sua diocese, e na execução de inúmeros trabalhos pela sua própria santificação e pela dos outros.
Para não tentar a Deus e não exigir milagres, não descurava de nenhum meio que a prudência lhe sugeria; mas também, uma vez certo da vontade de Deus, nada era capaz de o abater ou de o demover do bem começado; nem a falta de qualquer recurso humano, nem as demandas longas e pertinazes, nem a deserção completa dos companheiros, nem, afinal, os desprezos mais baixos, as injúrias mais vis, as mais negras calúnias. “Deus nos basta”, dizia ele, e mostrava-o pelo fato. “Procuremos estar bem com Deus, amemos a Sua glória, e Ele pensará em nós. Deus é um Senhor que nunca se deixa vencer em generosidade”.
Foi a mesma confiança viva e firme que sustentava Afonso e constante na aridez e desolação espiritual, em que o Senhor, para maior provação, quis que passasse os derradeiros anos da sua vida. Sustentou-o mais ainda nas tentações horrorosas e contínuas, com que o demônio o atormentava e o procurava vencer. “Senhor”, assim dizia muitas vezes, “é em Vós que confio. O demônio quer fazer-me desesperar; mas, sempre quero confiar em Jesus Cristo. Sim, Jesus Cristo é a minha esperança, e, depois dele, a Virgem Maria”.
Foi ainda da grande confiança do santo que nasceu aquele desejo vivíssimo de se ver livre dos laços do corpo; pelo que tinha uma santa inveja dos companheiros que morriam antes dele. Longe de olhar a morte com medo, falava dela com complacência, e meditava nela continuamente, considerando-a como o único meio para se unir a Deus, e, acrescentava, para ir beijar os pés de Maria Santíssima. Numa palavra, bem se pode dizer que toda a vida de Afonso foi um ato perpétuo de esperança em Deus, a quem sempre se recomendava e de quem esperava todo o bem. Felizes de nós, se o soubermos imitar!
II. Santo Afonso, não contente em praticar ele mesmo a confiança em Deus, pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima, procurou por todos os meios inspirá-la também aos outros. Considerava-a como um meio eficacíssimo, não só para tirar os pecadores do abismo do vício, mas também para elevar os justos a mais alta perfeição. E por isso que aconselhava a seus filhos espirituais, fizessem de ordinário a meditação em seus livros, mesmo porque contêm abundância de afetos e de orações. Alegra-te, portanto, com o santo, e agradece a Deus em seu nome. Depois, para lhe fazeres coisa agradável, e mereceres sempre mais a sua proteção, une os teus afetos aos do santo, e entrega-te sem reserva à divina providência.
Ó Pai Eterno, Vós, que, para me perdoar e salvar, não haveis perdoado a morte ao Vosso amado Filho, perdoai-me e salvai-me pelo amor desse mesmo Filho. Meu criador e meu Pai, não sois somente piedoso, mas também fiel. Haveis, pois, de dar o que se Vos pede pelo amor de Cristo, que nos prometeu que dareis tudo que vos pedimos em Seu nome. Sois também justo. Não é, pois, possível, já que estamos arrependidos das ofensas feitas à Vossa bondade, que não nos perdoeis e não nos salveis, pelos merecimentos de Jesus Cristo, que pela Sua morte satisfez à Vossa justiça e nos mereceu a salvação. Eis por que, ó meu Deus e Esperança minha, a Vós recorro cheio de confiança e Vos rogo, pelos merecimentos de Vosso Jesus: fazei com que eu não espere outra coisa senão o vosso santo amor. O amabilíssimo objeto do meu amor, fazei com que me esqueça inteiramente de mim mesmo, para repousar unicamente em Vós.
Em Vossas mãos, ó Senhor, ponho todas as minhas esperanças e toda a minha alma, a fim de que viva tranquilo em Vós na vida presente, e deixando este mundo entregue-me a Vós para sempre, e expire em Vós. Ó minha Mãe dulcíssima e Esperança minha, Maria, obtende-me a graça de orar sempre e de confiar nos merecimentos de Jesus e nos Vossos (1). Fazei-o pelo amor do Vosso grande devoto, Santo Afonso.
Texto adaptado de: Santo Afonso, modelo de firme confiança.