“A oração perseverante do justo é muito valiosa” (Tg 5, 16).
A chave dos tesouros celestes é a oração; e, excetuando as primeiras graças, o Senhor de ordinário não concede as outras senão por meio dela. De modo que, quando Deus quer fazer grandes coisas em alguém, predispõe-no concedendo-lhe o dom sublime da oração. Não é, portanto, de admirar que, tendo o Senhor destinado a Afonso a ser tão grande luminar da Igreja, te tenha dado, ao mesmo tempo, tão excelente espírito de oração, que disso o fez perfeito modelo.
Desde criança começou o santo a dar provas deste espirito; porquanto, prevenido pela graça e estimulado pelos conselhos e exemplos de sua egrégia mãe, desde então a sua conversação estava no céu, e as suas orações, qual colunazinha de fumo, subiam ao céu até o trono de Deus e alegravam o Coração divino com seu suavíssimo odor. Numa palavra, ainda quando jovem cavalheiro era conhecido e admirado por toda a cidade de Nápoles, não menos pelos seus talentos do que pela sua permanência longa, imóvel e extática diante do Santíssimo Sacramento, exposto à veneração pública.
Impossível é descrever os progressos que o santo fez, quando foi ordenado sacerdote e constituído pastor das almas. Basta dizer que, pelo grande meio da oração, se tornara todo de Deus, de tal forma que, inebriado pelo amor divino, não sabia falar nem pensar senão no objeto do seu amor e só com Ele conversava. Não se pense, porém, que Afonso não tenha sofrido aridez e desolação. Ao contrário, pela permissão divina, especialmente nos últimos anos da sua vida, a sua desolação espiritual chegou a ponto de o santo se ter quase por reprovado. Nunca, porém, deixou, nem mesmo interrompeu as suas orações, sabendo que, feitas em tal estado, são mais agradáveis a Deus e mais proveitosas à alma. Que confusão para nós, que não sabemos rezar sem consolações sensíveis. É isto sinal de que temos mais em mira a nossa própria satisfação do que a de Deus.
Convencido, como Afonso estava, de que a oração é absolutamente indispensável, quer para obter a graça de conversão, quer para alcançar a perseverança no bem, quer para progredir na virtude; zeloso também, como era, pela salvação das almas, não se contentou de ele mesmo praticar a oração; mas, por palavras e escritos, inculcou-a também aos outros. Com este fim compôs um livrinho intitulado: Do grande meio da oração; e o santo o tinha em tão alta estima, que o julgava o mais útil de todos os livros por ele editados. “Não o posso”, dizia, “mas, se me fosse possível, quisera imprimir tantos exemplares deste livrinho, quantos são os fiéis na terra, e dá-lo de presente a cada um”.
Exortava também os sacerdotes, seus jurisdicionados, e em particular os missionários, seus filhos, que no confessionário e no púlpito nunca deixassem de inculcar o uso da oração. Mais: não satisfeito com isso, compôs centenas de meditações, todas cheias de afetos e orações. E desejando que todos as lessem, escreveu estas palavras: “Recomendo que, para a meditação, façais, em regra geral, uso dos meus livros. Digo isto, não para elogiar os meus pobres escritos, mas porque as meditações por mim compostas são cheias de afetos piedosos e o que é mais importante de santas orações, o que não vejo geralmente nos outros livros”.
Portanto, meu irmão, não podes fazer coisa mais agradável ao santo Doutor, nem mais proveitosa a ti mesmo e ao próximo, do que familiarizar-te com as suas obras ascéticas e recomendar esta leitura também aos outros. Entretanto, aqui aos pés de Jesus Cristo, examina-te sobre como fazes as tuas orações, e toma a resolução de imitar no futuro os exemplos sublimes de teu santo pai. E para obteres a força necessária, recomenda-te a Deus pela intercessão de Maria Santíssima e mesmo pelos merecimentos de Santo Afonso.
Texto adaptado de: Santo Afonso, modelo de oração