“Despedindo o povo, Jesus subiu sozinho o monte, para rezar” (Mt 14, 23).
O barulho já foi usado como método de tortura. Fala-se hoje da poluição sonora, de gente que busca constantemente barulho como fuga de si mesmo, esquecer-se. A agitação constante joga o ser humano para fora de si mesmo, eis a realidade que facilmente nos envolve, o mundo de hoje pela TV, propaganda, jornais, todos os meios de comunicação.
Jesus, Verbo de Deus, vivendo nossa realidade humana contesta com sua atitude, toda esta realidade: “Despedido o povo, Jesus subiu sozinho o monte, para rezar” (Mt 14, 23).
O ser humano tem necessidade de interiorizar-se.
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Voltando-nos as raízes de nosso ser, intuiremos uma relação profunda e primordial entre nós e Deus que nos deu a existência e continuamente nos sustem no ser, para que não caiamos no nada.
Dado que o pecado original muitas vezes nos afasta de viver sempre imersos numa relação com Deus, é preciso então, palavras, orações, atos particulares, recolhimento de espírito. Tendemos reencontrar e exprimir o colóquio interrompido entre a criatura e o Criador.
“Precisamos viver como Maria, em seu silencio interior para ouvir constantemente Deus.
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O “Viver fora”, projetados no próximo ou nas obras – ainda que seja por amor Deus – se não for corrigido por um irmão espiritual que atraia a alma continuamente às profundezas, pode tornar-se motivo de divagação, com muito tagarelar inútil, até mesmo com “coisas santas”. É preciso viver o recolhimento, crescer interiormente desapegados de tudo, não para permanecermos suspensos entre o céu e a terra, mas enraizados no céu, fixos no Coração de Cristo através do Coração de Maria, numa vivência trinitária, prenúncio da vida que virá. Viver como o fez Maria, a mãe amada, Rainha, Guia, ancorada em Deus e não em posições exteriores que lhe são tão remotas como a terra do céu. Viver “dentro” para arrastar o mundo, que vive apenas “fora”, aos abismos dos mistérios do espírito, onde nos elevamos, repousamos, recebemos conforto, ganhamos novas forças e reencontramos alento para voltar à terra e continuar a batalha cristã até a morte.
Jesus, o Verbo encarnado, teve também seus momentos mais intensos de recolhimento de espírito; deixa o povo, despede-o, sozinho se coloca na solidão de Deus. Sua alma não é praça pública, mas traz a própria interiorização onde vive Deus. Mostra-nos claro nesta passagem, como testemunhar a futilidade do mundo que nos cerca e afirmar com atitudes que um outro mundo tem mais valor, mais importância!
“Sabeis que o meio mais eficaz para suportar as coisas adversas é amar muito a Jesus Cristo; mas, para obter esse amor, é preciso pedi-lo com insistência. Amar a Cristo, é a maior obra que podemos fazer nesta terra; é uma obra, um dom que não podemos conseguir por nós mesmos, mas dele nos há de vir; e ele está pronto a concedê-lo a quem lhe pede, por isso, se nos falta, é por nosso descuido que falta. É por isso que os santos cuidaram de orar sempre… recomendo-lhes também o silêncio: onde não há silêncio, não há recolhimento; e onde não há recolhimento só há desordem e pecado. Um dos maiores bens que a Congregação nos proporciona é o benefício do silêncio; e quem perturba o silêncio, causa dano a si e aos outros. (Circ. 29.7.1774-S. Afonso)”.
O carisma da Mensageira é encarnar o zelo de Cristo Redentor pelas almas mais pobres e simples, desprovidas e abandonadas. Mas, como ser “evangelho vivo” se as vozes de sua alma, são vozes do mundo, os seus anseios do coração são mundanos, em vez de silêncio é o barulho e confusão interior, em vez de possuir Deus em si como centro e realidade concretíssima, a alma é mais um cabide onde tudo de mundano se dependura? Água estagnada onde as coisas perecíveis param, também apodrecem. Pobres almas mais abandonadas, suas angústias não encontrarão eco, sua sede não será saciada, seus olhares buscando Deus, só Deus, mais uma vez perscrutarão em vão. Esta frase do Evangelho joga o Redentorista na maneira de ser daquele que é Mestre, Redentor. Impossível ser Redentorista (redentor) sem ser palavra viva, como Jesus, imerso em Deus de onde jorra a “água viva” que sacia, converte, santifica. É preciso então “…despedido o povo, subir sozinho o monte, para rezar” (Mt 14, 23)
Trecho adaptado de: ANJOS, Gervásio Fabri. CSsR e Virtudes. Aparecida, Santuário. p. 101-103.