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Conheça a História de Ir. Carolina

Hoje, vocês irão conhecer o testemunho de vida e vocação da Irmã Carolina, MAD, natural e residente no continente africano (Angola).
Em uma rica entrevista realizada pela Irmã Eliana da Cruz, MAD.

Conte um pouco sobre sua história vocacional:
“Sempre sonhei em ser religiosa. Desde uma certa idade dizia que desejava ser para ajudar os outros e principalmente quando via o trabalho que as irmãs faziam, naquela altura, quando a situação política era das piores (Caritas e acompanhamentos dos grupos de apostolados). Aos 12 anos participava do Gen e era vocacionada, além do mais sempre pensei que era uma vida bela. Lembro-me aos 10 anos que na redação livre, escolhi esses dois temas: ser consagrada e enfermeira (isso é na disciplina de língua portuguesa). E dizia comigo mesma: ‘não quero matrimônio para ser infeliz ao lado de um marido, de cunhadas e sogras’ . Isto é o que vivia no meu seio familiar”.

O que mais te levou a escolher a Congregação das Mensageira do Amor Divino?
“O nosso município apenas tem duas congregações: as Mensageiras e as filhas de A’Africa. Apesar da existência de outras congregações na província. Minha escolha foi sempre Mensageira. O seu uniforme, os trabalhos, o acolhimento e, principalmente, as visitas feitas pelos fundadores, Pe. Eduardo, CSsR, e Me. Felicy, MAD, e a superiora geral, que na época era a Ir. Maria Inês e tocava o violão que era uma beleza”.

Qual era a sua profissão antes de ser médica?
“Trabalhei 9 anos como professora. E no dia 12 de agosto de 2021, completei 2 anos como médica!”.

A medicina é uma profissão valorizada em Angola? E a Vida Religiosa?
“A medicina cá em Angola não é tão valorizada como devia ser, mas apesar de tudo é uma profissão que se respeita. No meu ponto de vista, antes a vida religiosa era mais valorizada que atualmente. Talvez pelos escândalos que vão surgindo no dia-a-dia… Nas aldeias ainda se sente o valor que a vida consagrada tem, principalmente pelos mais velhos, somos veneradas. Já a geração atual deixa a desejar. Digo isto por experiência própria”.

Por que escolheu estudar medicina? Sempre sonhou em ser Médica?
“Foi sempre a minha paixão. Desde que fui mal atendida no hospital pela minha vizinha, ainda como criança disse comigo mesma: ‘não vou mudar o mundo mas farei diferente. Tomara que nunca maltrate ninguém, esteja sempre pronta para atender qualquer paciente’. É isto que procuro fazer a cada dia apesar de algumas situações ser um pouco difícil”.

Como é ser médica onde não tem muitos recursos como em outros países? Sente muita dificuldade? Pretende se profissionalizar em alguma área especifica da medicina?
“Nossa população na sua maioria é de camada pobre e com uma taxa de natalidade muito alta e aí que parte a dificuldade. É muito, mas muito difícil trabalhar cá em Angola como médica porque muitas mortes que acontece é mesmo falta de recursos. Nunca tem especialistas para todas as áreas, os laboratórios com falta de aparelhos e reagentes necessários, medicamentos em faltas e no mercado informal tudo bem caro. Os doentes só se salvam na graça de Deus. Por exemplo, nos cuidados intensivos num hospital provincial só alberga 7 doentes críticos. Isto significa uma gota no oceano. A princípio nunca pensei em me especializar em uma área específica, porque meu sonho foi sempre saber de tudo um pouco. Mas hoje trabalho no Hospital Escola e é obrigatório, por esta razão, a área de pediatria”.

Como foi a experiência de ter uma leiga brasileira, Débora, lhe ajudando durante um mês?
“Foi uma experiência singular, rica, proveitosa. Um intercâmbio em ambas as partes. Nós bebemos da sua sabedoria e acredito que ela também. Graças a presença e o trabalho dela, o nosso consultório tornou-se ainda mais conhecido. Foi uma pena não continuarmos por causa da pandemia. Mas acredito e com a graça de Deus, que um dia repetiremos a experiência. Até hoje lembramos com muito carinho de sua doação e o quanto fez por este povo, e não só pela Congregação”.

Com é inspirar e ajudar jovens que querem ser médica, por exemplo a Ir. Verónica?
“Qualquer profissão, não basta um incentivo ou ajuda mas devemos nos sentir vocacionada. E é isto que vejo na Ir. Verónica. Tenho fé que para além da Irmã Verónica mais jovens seguirão. Só este ano muitas jovens estão fazendo enfermagem e é este meu desejo. A Congregação precisa de gente para saúde., deve investir e incentivar mais. Sei que o Brasil é um país com cursos profissionais curtos. Aproveitemos essas oportunidades”.

Como é conciliar a rotina da Vida Religiosa com a rotina de Médica?
“Não é fácil conciliar a rotina mas quando realizamos tudo por vocação e colocamos Deus em primeiro lugar, o difícil torna-se fácil, o duro torna-se leve. Como diz o salmista ‘Quem confia no Senhor é como o Monte Sião, nada o pode abalar está firme para sempre'”.

Teve algo ou história que mais lhe marcou desde quando começou a estudar até hoje?
“Quando comecei a estudar foi uma fase muito difícil. Percorrer todos os santos dias 44 km, de Caala a Huambo e Huambo a Caala, debaixo do sol, da chuva, suportar faltas de respeitos dos taxistas e muitas das vezes as aulas eram nos dois períodos, de manhã e de tarde. E no período da noite dava aulas, como se não bastasse conviver com o barulho das crianças do lar na hora do meu descanso. Lembro-me da primeira prova em Anatomia tirei 1, chorei e disse comigo mesma: ‘isso é o fim’. Já no terceiro ano da faculdade, um professor cubano de medicina interna disse para mim: ‘Serás uma boa médica’ e aquilo me deu um conforto e estimulação. Afinal nem tudo o que parece ser é”.

O que é ser Mensageira do Amor Divino para você?
“Para mim ser Mensageira é: ser alegria, conforto, esperança solidária. Queridas jovens brasileiras e angolanas, quando Deus chama nunca devemos olhar para trás. Dificuldades teremos mas elas foram feitas para serem vencidas. Mesmo como Mensageiras podemos realizar os nossos sonhos, é só saber esperar. Diz Eclesiastes 3,1: ‘tudo tem o seu tempo’. Quando nos negam algo nunca pensemos que o mundo acabou, pelo contrário, nada acontece por acaso. Hoje sinto-me realizada porque consegui realizar os meus dois sonhos. Aos 22 anos me consagrei ao Senhor e aos 35, recebi o diploma de Médica e aos 37, comecei a exercer a minha profissão. Hoje dou Graças Deus por me ter concedido saúde e vida, e o meu eterno obrigada pela minha família e a Congregação que sempre me apoiou. Todas as minhas conquistas devo a vós”.

Deixe uma mensagem para todas as jovens, brasileiras e angolanas, que desejam ser religiosas, de modo especial para aquelas que dentro de sua vocação desejam também estar na área da saúde?
“O conselho que deixo para as jovens é que nunca falte a oração, participação diária a eucaristia, o sacramento da reconciliação. Lutar, lutar sempre, é como se diz em Angola: ‘a luta continua e a vitória é certa’.

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