“O homem paciente é melhor do que o valoroso; e o que domina o seu ânimo, melhor do que o expugnador de cidades” (Pr 16, 32).
Exorta-nos São Tiago “a termos por um motivo de maior alegria, as diversas tribulações que nos sucedem, sabendo que a provação da nossa fé produz a paciência; a paciência faz obra perfeita” (1). Eis por que nosso santo, que, não contente com aplicar-se à perfeição de um modo qualquer, fizera o propósito de escolher sempre o que fosse mais perfeito, empregou todos os meios para progredir na virtude da paciência. Por outro lado, o Senhor, que o destinara a ser um modelo perfeito de resignação, não lhe diminuiu as ocasiões de sofrimentos, semeando-lhe o caminho da vida de vários espinhos.
O corpo de Afonso sofreu contínuas e dolorosas enfermidades, especialmente durante os últimos dezessete anos da vida, tolhido em todos os seus membros por aguda artrite, tornou-se como que outro Jó, ou antes uma imagem viva de Jesus crucificado. As enfermidades juntaram-se as perseguições, não somente da sua própria pessoa, senão também da sua Congregação, à qual amava mais que a si mesmo. Com as perseguições vieram-lhe os desprezos. Afonso foi tratado como injusto, orgulhoso, iludido, hipócrita, corruptor da moral cristã, afinal como ignorante. Assim foi tratado aquele cuja sabedoria foi e será sempre admirada pelo mundo inteiro.
Finalmente, para não falar de outros sofrimentos, aos desprezos se ajuntaram, particularmente nos últimos anos da sua vida, os escrúpulos, as tentações, a aridez e a desolação espiritual. No meio, porém, de todas as tribulações, o santo ficou sempre contente e resignado à vontade divina. “O mercado”, dizia ele, “onde as almas espirituais fazem mais lucro, são as tribulações. Vale mais uma hora de sofrimentos, padecidos com inteira resignação, do que todos os tesouros da terra. Senhor, graças Vos rendo por me dardes uma amostra das dores que padecestes. Basta que não me envieis ao inferno, e com vosso auxilio estou pronto a sofrer tudo”. Assim dizia o santo Doutor, e com sua paciência te ensina, a ti, que te glorias de ser seu filho e devoto, e não sabes sofrer uma leve injúria, uma pequena mortificação, uma palavra picante.
II. Não imaginemos que a paciência heroica de Afonso fosse talvez efeito de frieza ou insensibilidade natural. Ao contrário, por causa da sua compleição biliosa, era extremamente arrebatado e levado à ira. Mas, no dizer dos seus biógrafos, como, desde o dia em que virara as costas ao mundo, se propusera à imitação de Jesus Cristo, manso e humilde de coração, com violência contínua e abnegação de si mesmo, chegou não somente a sofrer com paciência, mas a desejar os sofrimentos, as humilhações e os desprezos. Ele mesmo o deu a entender a um seu íntimo. Querendo este que o santo rebatesse um insulto, a fim de não aviltar o caráter episcopal, Afonso respondeu: Trabalhei quarenta anos para adquirir um pouco de paciência, e quereríeis que o perdesse num instante?
Portanto, meu irmão, seja qual for o teu gênio, o teu estado, a tribulação que te aflige, também tu podes imitar os exemplos do teu grande protetor. Abraça, pois, de boa vontade a cruz, considerando-a como vinda das mãos de um Deus que é todo amor para contigo, e lembra-te de que de um modo ou de outro sempre a terás de levar. Mas, como observa o nosso santo Doutor, há esta diferença: Se padeceres com paciência, padecerás menos e te salvarás; se padeceres com impaciência, padecerás mais e te condenarás. Se não te achares com força suficiente, pede-a ao Senhor pelos merecimentos do santo.
Ó meu Jesus, pelos merecimentos de Santo Afonso, ajudai-me a sofrer com paciência as tribulações desta vida, e perdoai-me todas as ofensas que Vos fiz pelas minhas impaciências e pela minha pouca resignação nos sofrimentos que me enviastes para o meu bem. E vós, Virgem Santíssima e minha Mãe Maria, alcançai-me do vosso divino Filho a graça de o amar, pois que o amor me dará também força para sofrer tudo por amor dele.
Referência: (1) Tg 1, 2-4.
Texto adaptado de: Santo Afonso, modelo de paciência e de amor à cruz.